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Hoje acordei com uma vontade imensa

de reconstruir meu jardim interior

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Ilustração de Jana Magalhães

E nada como depois de um dia longo

(Dia longo de quem anda por aqui emendando dias)

Parar para uma canção...

Uma canção que não deixa a gente parar por muito tempo

Afinal, seguir é mister.

“Seguir viagem, tirar os pés do chão
Outros ares...sete mares...voar...mergulhar

[...]

Se dizem que é impossível
Eu digo: é necessário!
Se dizem que é loucura
(eu provo o contrário)
E digo que é preciso
Eu preciso...é necessário

Seguir viagem, tirar os pés da terra firme
E seguir... viagem”

                                                                     [Humberto Gessinger]

Uma onda segue a outra...

Tem um mar na minha esquina.

E é pra lá que eu vou nas tardes de agonia.

Contemplar a grandeza de quem se impõe pelo silêncio

(Ou quase silêncio)

Contemplar a metamorfose: água-onda-espuma-areia

Num processo convincente de tão repetitivo.

Convincente de que a gente tem mesmo que ser crescer,

desdobrar-se, ir em frente e espraiar-se...

Convencer de que o processo do mar, tem um pouco-muito do processo da vida.

(Isso eu aprendi com o mar da minha esquina)

Rafaelly '

Nau à deriva

Êta que hoje o mar num tá pra peixe,

Nem o céu pra estrela.

Êta que hoje não terra à vista

Nem marinheiro pra dividir aflição.

Êta que hoje a noite promete nuvem,

promete onda.

Mas mesmo com todas as ondas e nuvens,

E sem nenhum marinheiro, terra, estrela ou peixe

Vou continuar aqui.

Vou ancorar o meu navio

(pra não correr o risco de me perder)

E vou esperar o que falta chegar, bem assim:

à deriva.

Rafaelly '

Ilustração de: Patricia Metola

Dos ciclos

Andei pensando nisso de estar junto...

E de repente um se preocupa com o outro, um quer dar de si para tornar o outro melhor, um quer fazer o outro feliz, um e outro conversam muito, se interessam muito, tudo muito...

Em um tempo que se chama começo.

E de repente um não é mais tão importante assim... não mais. E um não precisa tornar o outro melhor dando de si, e não precisa fazer outro feliz, e não precisa mais se preocupar. Não carece, não. E as conversas tornam-se menores, porque já não tantos interesses: principiam com um bom dia e terminam com um tchau. Assim mesmo com introdução e conclusão, mas sem desenvolvimento. Porque carece não... E o que era muito, torna-se menos, bem menos, quase nada...ou nada mesmo.

Em um tempo que se chama fim.

Rafaelly '

Enquanto equilibrista...

E vou bem assim na vida:

Sem sair um passo do caminho,
Sem desviar para baixo o olhar,
Sem as flores deixar cair ...
Para frente
Para frente
Para frente

Rafaelly '

Sobre escolhas, caminhos e pedras...

E é bem assim: Pra cada escolha, suas respectivas possibilidades.

Pra cada possibilidade, seus respectivos caminhos.

Pra cada caminho, suas respectivas pedras.

E pra cada pedra, seu respectivo propósito. 

Rafaelly '

Das coisas que atrapalham o caminho...

Hoje troquei umas idéias com a menina dos sonhos. Falamos sobre "entulhos" e "seguimentos".

É que há bastante tempo, decidimos que acontecesse o que acontecesse em nossas vidas, iríamos prosseguir, aos trancos, barrancos e solavancos (como ela gosta de dizer) se fosse preciso...

O que não havíamos pensado até então, era que talvez fosse necessário tirar alguns entulhos do nosso caminho. Que talvez fosse necessário perder tempo com eles, machucar-se um pouco mais. Não pelo prazer de sofrer (porque até onde sei, não há prazer nisso), mas pela esperança de que só tirando os entulhos, abriremos o caminho para a felicidade passar...

Então, mãos à obra! Tiremos nossos entulhos caprichosamente, acreditando com muita força no que virá!

Rafaelly '

"...pra quando o carnaval chegar"

O bom mesmo desse tal de carnaval são essas cores...
Que tomam conta de tudo...das ruas, das caras, e dos corações.
Que cada um, então, comemore-o a seu modo.
Que comemorarei ao meu.
Valorizando, sobretudo, as cores do coração!


Rafaelly '

"...se tão contrário a si é o mesmo amor"

Hoje acordei recordando um poema, que de tão lembrado já virou clichê, mas que não perde a beleza por isso... Além do mais, a parte que me veio às idéias nem é tão clichê assim...

Bom, o poema é de Luís Vaz de Camões, e o trecho:

"(Amor) É cuidar que se ganha em se perder"

Quando pensei nisso, lembrei de mim. E de como esse verso tem tornado-se vida...

Acredito mesmo que no amor existe um tanto de desapego. Um tanto de deixar que se vá. Um tanto de deixar que volte (se quiser), ou não volte (se não quiser). Um tanto de deixar que escolha. De deixar que viva.

E se for pra ser assim, amar desapegadamente, querendo que seja um pouco meu (mas só um pouquinho), mas querendo mais que seja do mundo, que seja da vida, então que seja!

Rafaelly '

Ilustração de Patricia Metola

À menina dos sonhos...

Bem naqueles dias que eu acordou com um peso no peito e um aperto na cabeça, lá vem ela, com uns baldinhos e umas pecinhas de montar, toda sorridente, dizendo que é pra gente construir nossos sonhos. Então a gente senta na areia, e começa a arquitetar...

Combinamos desde o princípio, que nada há de ser feito de areia. Já tentamos outras vezes, em outras circuntâncias e não funcionou. Não, de areia não será.

Será das pecinhas que trouxemos (nos baldinhos, nas mãos e no coração). Será de algumas que encontramos pelo caminho, ao lado dos jardins pensantes, bem na hora em que saboreávamos seus agridoces. Será daquelas que ficaram pra trás, num passado remoto.

E arquitetamos por horas...

Isso foi ontem. Hoje não a vi. Mas ela com o muito que tem de mim, mandou-me uma flor, uma Flor-Palavras. E disse que era pra não deixar o meu jardim se acabar. E que era pra enfeitar nossos sonhos, assim que ficarem prontos. Logo, logo.

Rafaelly '

Con_torcer!

E nesses contornos que a vida dá, ando me contorcendo...

Torcendo a cara pra dor, pra mentiras, pra superficialidades...

Torcendo pra sobre_viver, sobre_estar, sobre_sonhar. 

Sim. Sonhar, sobre_tudo. 

Afinal de contas, sonhar faz bem.

(E ainda existem muitos sonhos aqui.)

Rafaelly '